Folha de São Paulo
29/07/2012
-
02h30
Por ALEXANDRE ARAGÃO
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
"Alô, eu gostaria de falar com a Várlen." Do outro lado da linha, Várlen
Barbosa, 28, responde que "a" Várlen não existe, mas "o" Várlen, sim.
Dito isso, lá se vai mais uma oportunidade de emprego. Sem trabalhar
desde dezembro do ano passado, o secretário ouviu de novo que, "apesar
do currículo excelente, a vaga é apenas para mulheres".
Esse é o maior problema enfrentado pelos homens que atuam na área: o
preconceito de gênero. E há poucos nessa luta. Dos 8.396 profissionais
registrados no Sinsesp (Sindicato das Secretárias e dos Secretários do
Estado de São Paulo), apenas 38 são homens. Eles representam ínfimos
0,45% da classe, ou seja, um homem para cada 220 mulheres.
A entidade estima que a proporção suba para até 3% caso sejam incluídos os não registrados.
Ilustração Bruno Martins |
||
A menção aos profissionais masculinos na sigla do sindicato --antes da
mudança, em 2010, era apenas "das secretárias"-- foi uma reivindicação
de membros como o diretor-adjunto Fernando Aguiar Camargo, 28. Formado
na área, ele trabalha em uma construtora onde cerca de 80% dos
secretários são homens. "A gente vive em uma sociedade machista, em que o
homem não foi feito para servir. Há um preconceito velado."
Camargo também ajudou a criar um grupo no Facebook para unir outros
secretários contra a hegemonia feminina na profissão. No "SecretáriOs"
--assim mesmo, com "O" maiúsculo--, 114 membros de todo o país contam
casos e trocam dicas de vagas e cursos de aprimoramento.
As principais ofertas de emprego divulgadas ali são de cargos públicos.
Uma vez que não pode haver distinção de gênero em editais, esse acaba
sendo um bom nicho.
Arte/Folhapress | ||
Carlos Alberto Vasconcelos, 46, prestou concurso e se tornou secretário
na faculdade de veterinária da USP, cargo que mantém desde 1995. "É mais
comum encontrar homens nessa posição na área pública", diz ele, cujo
trabalho se concentra em registrar atas de comissões, receber convidados
e lidar com problemas de funcionários. Formado em geografia e cursando a
graduação em secretariado, Vasconcelos acredita que o preconceito
diminuirá com o tempo.
Fundada em 1969, a Embraer contratou o primeiro secretário de sua
história no ano passado. O desbravador é Renato Evangelista de Souza,
21, que dá expediente com 121 colegas em São José dos Campos, interior
paulista. "Quando comecei, a pessoa ligava e achava que era engano."
Nenhum comentário:
Postar um comentário